O GÉNIO DOS REBUÇADOS


As aulas decorreram sem grandes tumultos, o que não é sinónimo de não haver o que contar, claro.
No apoio da manhã, perguntei aos três alunos que o frequentam se haviam trazido o caderno de atividades para a aula, que aconteceria dali a hora e meia. Apenas o M. o trouxera. Pedi-lho para fazer umas copiazitas das fichas de trabalho. A M. perguntou-me o porquê de tal medida, ao que lhe respondi que estava a evitar a marcação de faltas de material.
Já na aula, chegado o momento da resolução dos exercícios, 10 alunos precisavam das cópias que havia tirado.
- M., percebes agora a razão de as ter tirado?
Que sim, que percebia e agradeceu. Ao que questionei a turma:
- Não têm nada para me dizer?
- Obrigado, pressora! – responderam em uníssono. Não foi bem em uníssono, porque o H., como é hábito, ainda não tinha percebido de que é que se estava a falar.
- Não, jovens discípulos, não é isso. Eu faço uma breve introdução: hoje de manhã consegui adivinhar o número de alunos que não traria o caderno de atividades. Então, o que têm para me dizer?
Confesso que receei uma resposta do género “A pressora é bruxa!”, vá lá que me safei e o H., que finalmente apanhara a carruagem, respondeu com um belo eufemismo:
- A pressora é adivinha!
- Não! Também não!
É então que o T. chega à resposta:
- A pressora é um génio!
- Isso mesmo, T., muito bem! – respondi eu com grande satisfação, que foi abruptamente interrompida com a pergunta do A., de olhar vivaço e sorrisinho irónico:
- E pode saber-se quando é que a sr.ª génio nos traz os rebuçados que prometeu?
- Oh, A., que comentário mais interesseiro! – respondi-lhe, com um largo sorriso, enquanto pensava nos rebuçados que já comprara, mas que me esquecera de levar e entretanto comera.
A aula chegou ao fim e após a saída de todos, o G., certificando-se de que ninguém nos estava a ver, veio ter comigo e segredou-me:
- Pressora, eu na próxima aula trago rebuçados.
- Oh, G., não é preciso, eu vou trazê-los! Está prometido, está prometido!- disse-lhe.
E, com uma expressão de secretismo cada vez maior, acrescentou:
- Mas, pressora, eu trago, sim. Aqui na escola há! – e esbugalhava os olhos de felicidade ao pensar nos rebuçados – e são baratos, pressora!
Acho que corei. Lá lhe tive de confessar que já os tinha comprado e já os tinha comido todos. O G., eu vi, franziu o sobrolho, entre a incredulidade e a condenação. Depois lá sorriu, como sempre faz, e atirou-me uma “até amanhã, pressorinha”.
Saí da escola com a intenção de ir ao Aldi comprar o raio rebuçados, mas mudei de ideias. Decidi comprá-los só no dia da aula. 
É que se os trago para casa, lá se vai a dieta que nunca consigo fazer.

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