DIA 36 - A I.C. E O SEU DELÍRIO



O Raul é um mistério para algumas pessoas. Para aquelas que nunca o viram, naturalmente, ou que já o viram, mas não o conhecem. Mas o que dizer das outras, da I.C., por exemplo, essa grande colega. A mulher deve medir p'a cima de 1,64m! Ah e tal, mas porquê 1,64m?
- Porque eu também quero ser grande e meço 1,65m. Além disso, a crónica é minha e eu é que mando no que aqui escrevo.
Por ora, poucas são as pessoas que conhecem o Raul. Vou deixar o mistério a pairar mais uns dias e só depois o desvendarei, mas com toda a pompa que merece. Ainda assim, posso referir que a I.C. é uma das que mais tem privado com o animal. Já, inclusivamente, viajou com ele. Ora quando entrei na sala de professores, nem tempo tive para cumprimentar os excelsos colegas que a frequentam, pois fui logo abordada nos seguintes termos:
- Eh, anda cá! - era a colega I.C., que apesar do berço em que nasceu, com uma abordagem destas  mais parece que toda vida guardou cabras. Digo eu, não que alguma vez as tivesse guardado, mas por já ter  ouvido muito cabreiro gritar isto, lá na parte pobre da planície, que fica na extrema com a parte rica, onde, como calcularão, fui concebida e vi a luz do dia pela primeiríssima vez.
- Anda cá, já! - a gritaria é, novamente da mesma colega, já de cabeça perdida.
Serenamente, como é meu hábito:
- O que é queres, pá!! - disse eu, da porta da sala lá para o fundo, onde a I.C. se encontrava com o seu Ernesto.
- Quero fazer-te uma pergunta! - retorquiu. a I.C., quando tem alguma dúvida, não me larga. 
- Oh, diabo, olha que eu não sei tudo! - respondi-lhe, com a humildade que me caracteriza.
- Olha lá, tu tens um cão? 
A questão foi colocada de forma tão genuína, que, por segundos, até eu fiquei baralhada, só conseguindo alinhavar um "mas.." cheio de reticências.
- É que li uma das crónicas e fiquei com a sensação que tens um cão! - comentou.
- Oh, I.C., - disse eu, com os olhos esbugalhados de surpresa e preocupação -  é o Raul! 
- Ai, é verdade! - a gargalhada da I.C. ecoou na sala, abafando o burburinho alterado daquela gente que a frequenta. 
Eu ainda fiquei uns segundos boquiaberta, mas depois passou-me, que eu não sou muito dada ao pasmo.
Este pequeno diálogo, para que o percebam melhor, pode ser colocado nos seguintes termos:
- Eh, anda cá! - poder-me-ia ter dito a colega I.C., que apesar do berço em que nasceu, com uma abordagem destas  mais pareceria que toda vida guardou cabras. 
- Anda cá, já! - a gritaria poderia ser, novamente da mesma colega,  que já estaria de cabeça perdida.
Serenamente, como é meu hábito:
- O que é queres, pá!! - diria eu.
- Quero fazer-te uma pergunta! - retorquiria a I.C..
- Oh, diabo, olha que eu não sei tudo! - responder-lhe-ia eu, com a humildade que me caracteriza.
- Olha lá, tu tens um filho? 
A questão seria colocada de forma tão genuína, que, por segundos, até eu ficaria baralhada, a tentar perceber se teria ou não descendência, e só conseguindo alinhavar um "mas.." cheio de reticências.
- É que li uma das crónicas e fiquei com a sensação que tens um filho, fala lá num! - comentaria.
- Oh, I.C., - diria eu, com os olhos esbugalhados de surpresa e preocupação -  o filho de que falo é o teu! 
- Ai, é verdade, eu é que tenho! - a gargalhada da I.C. ecoaria na sala, abafando o burburinho alterado daquela gente que a frequenta. 
Eu ainda ficaria uns segundos boquiaberta, passar-me-ia depois, que eu não sou muito dada ao pasmo, afinal, aquela sala é uma amostra de Rilhafoles (*).
E eu cá gosto muito de sítios saudáveis.


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(*)Convento de Rilhafoles, depois Hospital de Rilhafoles e, desde 1911, Hospital Miguel Bombarda

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