Dia 10 - Coelhos, ossos e, claro, cacifos



O beliche não é bem um beliche, mas graças à D.G (a quem publicamente agradeço, cheia de salamaleques), tenho, não apenas o melhor cacifo, como também o mais arrumado. Não quero com isto dizer que, por exemplo, o da D. e da N. esteja um desconcerto tal, que nem com uma arrecadação, se entende.
Nas aulas, tudo em ordem:
- Professora, sabe que me chamam coelho? – perguntou serenamente  o G., adorável como só ele sabe ser, com dois distintos incisivos.
Como me acontece amiúde, baixou sobre mim a clarividência, que também ontem me tomou, e coloco a seguinte questão:
- Porquê? – enquanto me esbofeteava mentalmente.
Indignado, mas sempre tranquilo, o G. atirou-me à cara, como um estalo:
- Oh professora, então não se vê logo?!
Pois, G., mas quando te olho, eu vejo-te. Muito para além das dentolas, como lhe chamas.
E porque não vos quero levar às lágrimas, vou deixar-me destas considerações e avançar já para o momento em que, num acesso de desespero por nenhuma das explicações que dera a propósito da matéria ter surtido qualquer efeito, emiti um som, cuja aproximação onomatopaica seria, não se assustem:
- Grrrrrrr!!!!!
- Ai pressora, não se cheteie, dizia a A.
- Já estou chateada! A seguir começo a morder-vos!
E o G., que teve hoje o seu momento alto, de forma muito calma, chamou-me e de semblante muito sério, esclareceu-me:
- Professora, (desculpem-me interromper o discurso do pupilo, mas importa referir que, dos 100 que me cabem, este foi, até agora, o único que pronunciou todas as sílabas deste nome que me chamam) mas eu sou só ossinhos! – enquanto me esclarecia, esticava os seus bracinhos franzinos.
Não contente ainda com todo este meu desempenho, apercebi-me de que tinha perdido a bolsa dos lápis. Depois de todos os que estavam na sala de professores terem batido com a mão no peito a declarar a sua inocência, decidi ir à sala onde estivera a dar aula.
- Toc, toc… ( hoje estou muito dada às onomatopeias).
- Sim…
- Desculpa, T., estar a incomodar-te, venho só buscar o meu estojo…
A T. procurou, eu também, a T. já andava de rabo para o ar, isso eu não fiz, eis que um aluno coloca o dedo no ar. Silêncio para o ouvir:
-Mas a pressora saiu da sala ao lado, é melhor ver lá.
Sorri-lhe entredentes. Agradeci. Desculpei-me. Saí.

E dou por terminado este texto. 
Recuso-me a esta humilhação em praça pública!

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